Alda Pires: agro-alimentares da região


About the project

por Filipe Sousa, publicado no jornal A Planície, 15-09-2004

Há quem queira trabalhar por conta de outrem, se possível num emprego do Estado, vendo passar os dias iguais atrás de uma secretária ou balcão, cumprindo horários e ordens das chefias, esgotando aí as suas metas. Não é este, seguramente, o ideal de vida da Alda Pires, residente em Amareleja, que, mesmo considerando as regalias e a estabilidade associadas ao exemplo descrito, prefere pesar, no outro prato da balança, as vantagens de se dedicar a um trabalho por conta e risco, assumindo as rédeas do seu destino. E acrescenta outras compensações: ter tempo para si própria, para a sua família ou para desenvolver outros interesses, regendo-se por outro relógio e encontrando assim o seu próprio ritmo de trabalho, com criatividade.
Pensar desta forma pode até parecer um trapézio sem rede, como reconhece, mas ser o seu próprio patrão, ser dona do seu tempo, mandar na sua agenda e fazer da sua paixão o seu trabalho, acreditando nas suas potencialidades e levando à prática o seu espírito de iniciativa, são coisas de que não abdica por nada deste mundo. É claro que o risco anda associado à actividade empresarial e existem sempre receios de que algo corra mal e de que, ao abanar algumas fundações, o edifício desmorone. A Alda sabe do que fala, tendo em conta a sua larga experiência enquanto promotora de negócios diversificados dentro da área da comercialização de produtos alimentares. Por isso, risco sim, mas calculado. No entanto, apesar de algumas coisas não terem corrido tão bem quanto esperava, precisamente por desconhecer alguns aspectos que se prendem com o funcionamento de uma empresa, deste seu trajecto guarda lições importantes que a fazem estar hoje mais preparada para lutar contra as adversidades do mundo dos negócios.
Para esta nova postura, que lhe permitiu traçar uma nova estratégia e ser mais cautelosa e profissional, muito contribuiu a sua decisão de frequentar o curso de Empreendedorismo e Criação de um Pequeno Negócio, organizado pela ADCMoura em 2003, onde aprendeu coisas simples mas de grande utilidade, como as que dizem respeito à criação de uma empresa, às condições exigidas para a sua viabilidade, à organização da contabilidade ou à gestão de stoques, por exemplo. Foi neste curso, por sinal, que ouviu falar, pela primeira vez, do Microcrédito. E foi a este sistema de financiamento que acabou por recorrer, com o apoio da ADCMoura na instrução da respectiva candidatura, quando resolveu pôr em prática os ensinamentos ministrados durante a formação. A sua ideia, amadurecida ao longo do tempo, com avanços e recuos, passa por criar, com o marido, um sistema que contempla o armazenamento, a distribuição e a comercialização de produtos agro-alimentares típicos da região junto de restaurantes e mercearias e outros estabelecimentos afins existentes no distrito. Pensa ainda, uma vez por semana, alargar o seu mercado à zona de Lisboa e margem sul do Tejo, para o que já tem contactos estabelecidos junto de lojas da especialidade e supermercados de média e grande dimensão. Daí que o investimento previsto nesta sua nova actividade contemple as obras, que estão a decorrer, num edifício que terá as funções de armazém, assim como a instalação de uma câmara de frio numa viatura comercial de que é proprietária, que lhe permitirá fazer a distribuição dos produtos com todas as condições exigidas para o efeito.
Mas os seus projectos não ficam por aqui. A médio prazo pretende abrir as portas de um ginásio em Amareleja, aproveitando o facto de o marido ser professor de Educação Física, e, mais tarde, criar um serviço de fisioterapia, a pensar sobretudo na população mais idosa da vila. A outra ideia consiste em converter, num edifício que recebeu de uma herança, uma residencial, com todos os requisitos de comodidade, ajudando assim a colmatar uma necessidade sentida ao nível do alojamento daquela localidade.
Enquanto estes projectos não se concretizam, a Alda vai continuando a acreditar no poder dos sonhos.