António Baltasar: a ferro e fogo


About the project

por Filipe Sousa, publicado no jornal A Planície, 15-4-2003

Foi destino de rapaz, como ele gosta de frisar. Em pequeno não gostava da escola por aí além e então o pai disse-lhe: «se não queres, vais comigo para a oficina aprender o ofício que logo em sendo mais velho ficas de posse daquilo e à tua irmã, que gosta de estudar e quer ser enfermeira, pago-lhe eu os estudos». E assim foi. Com este acordo tácito familiar, o António Baltasar herdou o ofício do pai, que já era do avô, vai fazer 20 anos. Presta serviços de serralheiro (portas, portões, janelas, o que lhe mandam fazer) e serviços de ferreiro (cadeiras, mesas, mesas de cabeceira, camas, candeeiros, lavatórios, assadores, restauro de peças antigas, enfim, tudo criações suas que revelam engenho e arte). Não tem mãos a medir e vai participando em feiras com a ajuda da ADCMoura. Em 2002, conseguiu um apoio do Microcrédito para comprar uma máquina de corte e está agora a pensar fazer obras na oficina para melhorar as condições de trabalho e criar um espaço de exposição para as suas peças.
Posteriormente, também com o apoio da ADCMoura, foi um dos primeiros empresários do concelho a candidatar-se ao então recém implementado programa LEADER+ da Margem Esquerda do Guadiana. A aprovação da candidatura veio permitir-lhe comprar maquinaria necessária para modernizar a actividade, o que, de outra forma, teria sido difícil de concretizar.
Pela capacidade que tem demonstrado de tirar partido das oportunidades, de promover o seu trabalho, em feiras e exposições, e de apostar continuamente na modernização do negócio, o António Baltasar é um dos poucos bons exemplos, que é possível encontrar no concelho, de dinamismo empresarial associado às artes e ofícios tradicionais.

incentivo: microcrédito (Associação Nacional de Direito ao Crédito); programa Leader+ - Margem Esquerda do Guadiana

contactos:
António José Baltasar
R. Gonçalo Garcia, 26-26A - 7885-063 Amareleja
Tel.: 285982324
Email: antbaltazar@hotmail.com


DE PAI PARA FILHO

por Paula Carvalho Silva, Microcrédito em Portugal - uma nova oportunidade, Millenium BCP Microcrédito, 2005

À porta da oficina, na Amareleja, António Baltazar expõe cabeceiras de camas de ferro. Duas portas gigantes dão acesso a um interior arejado e surpreendentemente limpo para local de trabalho de um serralheiro. Nas paredes do fundo, as ferramentas foram alinhadas por uma ordem específica e penduradas em quadros que facilitam o trabalho. «A higiene manda muito numa oficina. Aos sábados tiro o dia para limpar, depois à segunda-feira trabalha-se com outro ânimo e, além disso, faz menos mal à saúde. Tem de se ter cuidado porque esta profissão é um bocadinho bera para os pulmões», explica.
António recorreu ao microcrédito para comprar máquinas. Uma de furar, outra para cortar ferro, uma semi-automática para soldar, uma rebarbadora e um berbequim. «As outras que tinha já estavam velhinhas. Pedi mil contos e já acabei de pagar. Já não me lembro se vi um panfleto ou se li no jornal, mas depois foi o animador da ADCMoura que me ajudou e tratou dos papéis todos. Pouco depois a Fátima Belo da ANDC veio falar comigo e, finamente, um professor chamado Nixon foi quem me acompanhou nos primeiros meses e apresentava os relatórios», conta.
Em 1982, com 18 anos, António Baltazar resolveu desistir de estudar (tinha o 6º ano) para começar a trabalhar na oficina do pai, abegão (carpinteiro de carros de bois). «Já vinha para cá nas férias da escola.» Hoje é Vicente que lhe faz companhia e António acaba por ficar mais descansado com a presença do pai que sofre da doença de Parkinson.
Aliás, foi ele que lhe ofereceu o espaço de 82 metros quadrados onde trabalha, enquanto a irmã usufruía da possibilidade de tirar o curso de enfermagem. «Foi um acordo que fizemos há muitos anos.» No andar de cima António acrescentou uma sala enorme que serve de espaço de exposições, onde, por detrás de uma cortina, também montou uma cama para os momentos de maior cansaço.
O dia começa ás oito da manhã, interrompe à hora do almoço para continuar depois, normalmente, até às sete. «Tenho tido sempre trabalho, não varia muito, quer seja Inverno ou Verão. É claro que se trabalha mais ou se fica mais tempo quando a vontade é maior, depende do espírito», diz rindo. A profissão de serralheiro traz alguns problemas. «O mais difícil é a claridade da soldadura, quando me descuido chego a não dormir de noite. Às vezes, sobretudo no início, esquecia-me dos óculos ao usar a rebarbadora e a limalha obrigou-me a ir algumas vezes ao médico a Moura ou a Beja. Agora tenho mais calo e isso já não me acontece como antes», confessa.
António Baltazar faz portas, portões, janelas, restauro de camas e peças antigas de ferro. «Já fiz exposições em Moura, na Amareleja, em Tavira e em Espanha. Tenho algumas fotografias de peças que as pessoas podem escolher ou então trazem-me revistas com aquilo que querem. A maioria dos meus clientes são do concelho mas também vêm de Lisboa.»


ANTÓNIO BALTASAR: ARTESÃO CERTIFICADO

por Sónia Pinto, publicado no jornal A Planície, 15-9-2006

Com o apoio financeiro do Microcrédito e do programa Leader + da Margem Esquerda do Guadiana e com o apoio técnico da ADCMoura, o António Baltasar, ferreiro e serralheiro de Amareleja, tem conseguido dinamizar e modernizar a sua actividade, o que, de outra forma, teria sido difícil de concretizar.
Pela capacidade que tem demonstrado de tirar partido das oportunidades, em especial de se fazer dotar de melhores condições de trabalho, de apostar na qualidade e na inovação e de promover as suas obras em feiras e mostras, o António Baltasar é um dos poucos exemplos, que é possível encontrar no concelho, de dinamismo e perseverança associados às artes e ofícios tradicionais.
Pensando sempre em criar novas condições para a sustentabilidade futura da sua actividade, tornou-se o mais recente artesão do concelho de Moura a obter a Carta de Artesão e a Carta de Unidade Produtiva Artesanal, o que fez com a ajuda da ADCMoura, uma distinção que exibiu com orgulho na última Feira de Artesanato realizada em Moura.
Actualmente, é possível a qualquer trabalhador/a ou unidade produtiva, que considere reunir as condições para ver os seus produtos reconhecidos como genuinamente artesanais, apresenta uma candidatura tendo em vista a obtenção da Carta de Artesão e/ou da Carta de Unidade Produtiva Artesanal. Entre as vantagens deste reconhecimento destacam-se as seguintes:
- o acesso a apoios e benefícios que o estado atribua ao artesanato;
- a menção do reconhecimento na rotulagem e publicidade dos produtos, através de um símbolo identificador.

apoio: obtenção da Carta de Artesão e da Carta de Unidade Produtiva Artesanal