Francisco Amante: as mil e uma noites do Bagdad


About the project

por Filipe Sousa, publicado no jornal A Planície, 1-11-2005

Francisco Amante, nascido, criado e residente na Amareleja, tem 28 anos e a noite como paixão maior. Isso explica o rumo que acabou por dar à sua vida e que se resume nesta frase que lhe assenta como uma luva: barman de profissão e noctívago por vocação.
Depois de doze anos passados nos bancos da escola e uma primeira experiência de trabalho na construção civil, 1998 marca o seu primeiro contacto com a actividade que viria a abraçar até hoje. Nesse ano, como habitualmente acontecia, participa, atrás de um balcão, na festa popular dos mastros de S. João, servindo copos e petiscos. O proprietário do Texas Bar repara na sua destreza e convida-o a ir trabalhar com ele. A partir daí são quatro anos passados a estagiar e a aguçar o engenho, numa área para a qual se sentia particularmente dotado, até que um dia se acha em condições de bater as asas sozinho e voar mais alto.
Trabalhar por conta próprio era um sonho antigo que acalentava e se torna de um momento para o outro realidade quando, fazendo uso das suas economias e com o ânimo e o dinheiro emprestado por alguns amigos, passa a gerir os destinos do Bagdad Pub. A casa já existia, por sinal a mais antiga do concelho de Moura neste tipo de actividade, e para além do nome herda também a disposição e decoração do espaço, que ainda hoje mantém porque as suas reduzidas dimensões não são de molde a permitir grandes renovações. Mesmo assim, em três anos passados à frente dos destinos do bar, o Francisco conseguiu fazer com que o Bagdad se tornasse num ponto de referência da noite da Amareleja, sobretudo ao fim-de-semana, quando aí convergem grupos de gente jovem e outros jovens de espírito, de quarenta e mais anos. Enfim, várias “faunas” de idades e proveniências distintas, sobretudo da Amareleja, mas igualmente da Póvoa de S. Miguel, Granja e até de Espanha, que vêm em busca do prazer do encontro e da conversa, mantida acesa enquanto se bebe um copo ou se degusta um hambúrguer ou pizza, e se deixam embalar por sonoridades e batidas a condizer, interpretadas por bandas ou músicos a solo da região, do rock á música de inspiração árabe, ou não estivéssemos em reduto com alusões orientais, por vezes aproveitadas para sacudir os corpos na improvisada pista de dança.
E é por causa da animação, que inclui também a oferecida por algumas máquinas de jogos, que vem a propósito contar a história da ligação do Francisco com o Microcrédito e com a ADCMoura/RAIL, que lhe facultou apoio na instrução da candidatura a esse sistema de financiamento.
Talhado para o negócio, o Francisco, com o Euro 2004 à porta, realizado por cá no penúltimo Verão, logo viu aí uma possibilidade a não desperdiçar para animar a clientela da esplanada, a que ele chama o seu segundo bar e que tira partido de estar localizada numa das zonas mais altaneiras e frescas da vila, também conhecida por Alto da Boa Vista ou o Cabeço.
Convertida a sua ideia de negócio em projecto com pernas para andar, o investimento de 5 mil euros haveria de traduzir-se na aquisição de um projector de vídeo, na instalação de ar condicionado no bar e no reforço do stoque de bebidas.
Por conseguinte, em praticamente um mês que durou o Campeonato da Europa, o Francisco conseguiu fidelizar mais clientes e com isso promover o seu negócio apostando para o efeito na projecção de jogos de futebol numa superfície de grande formato numa superfície de grande formato, que por acaso utilizava a parede da caixa de frio de uma carrinha de um amigo. Passada a euforia do Euro, as projecções de filmes, concertos, jogos de futebol, telediscos continuaram até hoje no interior do bar, animando principalmente as noites frias de Inverno, no que constitui mais uma estratégia para dar outra vida às noites da Amareleja.
Apesar destes pequenos passos que têm servido para consolidar a sua costela de empreendedor, para o Francisco o futuro continua a ser um mundo de hipóteses em aberto por onde passa, e isso é o único dado seguro, uma casa do género, que pode ser um bar, restaurante ou café, mais "à sua maneira", como refere amiúde.

incentivo: Microcrédito (Associação Nacional de Direito ao Crédito)

contacto:
Francisco Amante
Bagdad Pub
M R. 25 Abril, 34 Amareleja