Laurinda Pato: a mercearia da aldeia


About the project

por Filipe Sousa, publicado no jornal A Planície, 1-11-2002

Em 1983, o José e a Laurinda, marido e mulher, decidiram zarpar de Santo Amador e rumar à Suiça em busca de uma vida melhor. Tinham intenções de se estabelecer e singrar por lá. Mas foi sol de pouco dura. Ainda na Suiça, mas já decididos a ir embora, tinham tomado conhecimento da existência na sua aldeia de um comércio para alugar. Entraram em contacto com a senhora Irene, a proprietária, e foi só o tempo de regressar, comprar uma casa e erguer o negócio. Hoje, a Laurinda e o José estão à frente dos destinos do mini-mercado Irene. Neste espaço comercial que é também de sociabilidade, em plena rua principal, encontra-se de tudo um pouco, embora o forte do sortido sejam os artigos de limpeza, mercearia e charcutaria. Mais recentemente, a Laurinda e o José decidiram comprar, através do Microcrédito, um assador eléctrico de frangos como resposta à inexistência na aldeia de restaurantes e serviços similares e ainda como estratégia para diversificar a oferta e aumentar as vendas do seu mini-mercado. O investimento tem sido bem sucedido e novos projectos para melhorar o negócio estão já na calha.

incentivo: microcrédito (Associação Nacional de Direito ao Crédito)

contacto
Laurinda e José Pato
R. Nova, 8 A - 7875-264 Santo Amador
Tel.: 285894107


"TAKE-AWAY" ALENTEJANO

por Paula Carvalho Silva, Microcrédito em Portugal - uma nova oportunidade, Millenium BCP Microcrédito, 2005

Foi numa conversa de café que José Pato soube, através de António Gato (ADCMoura), da possibilidade de aceder ao microcrédito para concretizar uma ideia da sua mulher, Laurinda, para o mini-mercado que exploram. O casal - ambos naturais de Santo Amador -, esteve emigrado na Suiça. Amantes do campo, José e Valdo (o filho mais velho) influenciaram a decisão colectiva de regressar à terra. «Mas só porque tivemos esta proposta da loja, caso contrário, sem trabalho não teríamos arriscado», afirma Laurinda.
O estabelecimento existe há mais de 60 anos e foi-lhes alugado, há cinco, por 150 euros. Hoje pagam 192. «De loja passou a mini-mercado onde o cliente se serve à vontade. Introduzi a máquina registadora e procuro adaptar os produtos aos novos tempos. Quando o cliente pede e não tenho, encomendo. E até gosto que me digam para poder responder a toda a gente», explica.
Com algum dinheiro que trouxeram da Suiça abasteceram a loja e compraram máquinas. sem restaurantes por perto, a ideia surgiu sem esforço, naturalmente. «Aqui não há nenhum sítio para comer, só cafés. Por isso, lembrei-me da máquina para assar frangos», conta Laurinda. António Gato achou que o projecto «tinha pernas para andar e que daria lucros» e ajudou-os a elaborar a candidatura e o pedido de empréstimo para 2.500 euros, valor quase equivalente ao preço da máquina. Durante três anos pagaram 75 euros por mês, encargo que acabou no início de 2004, mas valeu a pena porque «o volume de negócios duplicou». Laurinda vende para a população local; o maior número de pedidos vem da freguesia de Safara e alguns da ADCMoura também.
Enquanto a conversa decorre, os clientes, maioritariamente mulheres, sucedem-se. Fazem perguntas sobre a forasteira e sentam-se à espera de serem atendidas. Uma senhora porque caiu há pouco tempo e mal consegue andar, outra, bastante mais idosa, porque está sozinha e gosta de por ali ficar em amena cavaqueira ou simplesmente a observar quem chega e quem parte. São minutos para falar do tempo, da vida e outras trivialidades, prazenteiramente, ao correr do relógio das aldeias alentejanas. «No futuro queria comprar um local grande para fazer mercearia e pastelaria, só para as minhas clientes, só para as senhoras», brinca Laurinda entre risos, «algo para ter sossego. Um sítio onde os clientes se pudessem reunir com tranquilidade a beber um sumo ou um café.»