Marcelino Morgado: o reino das flores


About the project

por Filipe Sousa, publicado no jornal A Planície, 15-10-2003

Estamos em 1953. O Marcelino Morgado acabou de fazer 10 anos e concluir a Instrução Primária. É um rapazito igual aos do seu tempo, nascido na Amareleja, sem grandes recursos e horizontes, a quem o destino reservou o abandono prematuro da escola em troca do trabalho atrás de um balcão, como empregado da casa Guinapo Feronha, onde se vendia de tudo um pouco. Mal sabia que esta primeira experiência profissional iria ser o princípio do resto da sua vida como comerciante.
Quatro anos volvidos, arranja emprego num armazém onde chega a desempenhar funções de caixeiro-viajante. Aos vinte anos o destino torna-se ainda mais implacável. É chamado a combater em Angola, onde viu coisas de que não lhe apetece lembrar-se. Concluído o serviço militar, surgem hipóteses de permanecer e trabalhar em África. O Marcelino cria o seu negócio e a adaptação parece fácil. Especializa-se na venda de brinquedos. Entre os produtos que tinham mais saída, recorda, estavam os kits de modelos de aviões, que importava da Europa. Entretanto, casa-se por procuração com a Maria Teodora, uma amiga de infância que deixara em Amareleja, e que vem juntar-se a ele em Luanda. Apesar de longe de casa, a vida decorre tranquila e próspera para o casal, mesmo após o 25 de Abril de 1974 ou quando da independência do país, ocorrida no ano seguinte.
Mas em 1977, a decisão está tomada, a de regressarem a Portugal. Vivem temporariamente em Lisboa, onde o Marcelino, uma vez mais, exerce funções de caixeiro-viajante ao serviço de uma empresa. Só em 1993 voltam em definitivo para a Amareleja, com o objectivo de aí abrirem um estabelecimento comercial na área da confecção e retrosaria.
Em 1997, surge a ideia de investir também no negócio da venda de flores, de corte e envasadas, sem esquecer os produtos e acessórios relacionados com a actividade. Era uma forma de o Marcelino e a Maria Teodora colocarem em prática as competências adquiridas durante a frequência de um curso de formação na área dos arranjos florais e era ao mesmo tempo uma forma de gerar rendimentos adicionais, bem como de contrabalançar os pontos fracos identificados na actividade do “pronto-a-vestir”, traduzidos na menor rotação dos produtos, reduzidas taxas de lucro e maiores riscos de investimento. Mas apesar do sucesso da aposta e da fidelização de muitos clientes, tanto na Amareleja como em Barrancos e Mourão, o Marcelino e a Maria Teodora viam-se a braços com um problema por resolver: a inexistência de condições para conservar as flores de corte, que se encontravam ao ar livre, no quintal da habitação, apenas protegidas dos rigores do clima por um telheiro de chapas de zinco. Esta situação acarretava prejuízos consideráveis e frequentes, sobretudo quando as temperaturas de Verão reduziam drasticamente o prazo de validade das flores, levando à inutilização de muitas delas. Fartos de ver murchar as suas flores antes do tempo, o Marcelino e a Maria Teodora decidiram adquirir uma câmara frigorífica e construir uma pequena área de serviço no quintal da sua habitação para melhor receber fornecedores e clientes. Tudo isto acabou por ser conseguido com recurso ao Microcrédito e com o apoio da ADCMoura, permitindo, doravante, aos seus promotores trabalharem com todas condições e numa escala maior e abrindo boas perspectivas de expansão de um negócio com reduzida oferta a nível local.

incentivo: Microcrédito (Associação Nacional de Direito ao Crédito)

Marcelino Morgado
M R. da Figueira, 2 7885-032 Amareleja
T 285982266