Mariana Lourinho: restaurante O Encalho


About the project

por Filipe Sousa, publicado no jornal A Planície, 1-9-2002

Chama-se O Encalho, o restaurante que a Mariana Lourinho abriu na Amareleja, com recurso ao Microcrédito. Este nome deriva da antiga designação por que era conhecida uma taberna que existia no mesmo local. Segundo reza a história, quem vinha dos lados do Regato acabava, mais cedo ou mais tarde, por ter de encalhar no "inevitável", tal era a fama do vinho e dos petiscos aí servidos.
Afinal, é esse o objectivo da Mariana, ao lançar-se nesta iniciativa empresarial: que todos "encalhem" no seu restaurante. E bons motivos não faltam para que isso aconteça: a ementa é farta e variada, embora os pratos da região mereçam a preferência dos clientes, que vão do viajante em trabalho ao turista de fim-de-semana, passando, claro está, pelos próprios residentes. Quando passar na Amareleja, não deixe de encalhar n'O Encalho.

incentivo: microcrédito (Associação Nacional de Direito ao Crédito)

contacto
Mariana Honrado Lourinho
M R. Catarina Eufémia, 43, 7885-027 Amareleja
T 285983263 | 936219065
E restauranteoencalho@gmail.com
restauranteoencalho.blogspot.pt


UM RESTAURANTE OUTRORA TABERNA

por Paula Cristina Silva, Microcrédito em Portugal - uma nova oportunidade, Millenium BCP Microcrédito, 2005

Foi por necessidade que Marina Lourinho abriu o restaurante O Encalho a 13 de Agosto de 2001. Com a 4ª classe cumprida, escolaridade obrigatória, viu-se na contingência de seguir a tradição. Deitou mãos à obra e foi para o campo ajudar os pais. António Bolrão e Matilde Prazeres cultivavam pedaços de terra herdados e alguns comprados a posteriori. «Trabalhei sempre na agricultura, sobretudo na apanha da azeitona, mas também semeámos meloal», descreve Mariana. «Depois a agricultura deixou de dar, surgiu a seca e os melões vendiam-se mal por causa dos preços dos produtos espanhóis.» Ainda procurou a subsistência com a ajuda dos filhos, enquanto o marido, José, foi trabalhar como camionista, durante 22 meses, para uma empresa de gás natural, a transportar materiais de construção.
«Mas nessa altura já tinha decidido. Os pedreiros tinham começado a trabalhar no restaurante e eu vinha de vez em quando ver o evoluir da obra. Também ia a Espanha buscar material como o tijolo de burro, as cadeiras e as mesas», descreve.
Mariana Lourinho procurou conselho junto do centro de emprego, sobre qual seria a melhor forma e o melhor negócio para instalar na Amareleja. «Foi lá que me falaram da possibilidade de abrir um restaurante. A seguir fiz um curso de formação em gestão. de mês e meio, e elaborei o projecto. O financiamento a fundo perdido veio de seguida, mas o dinheiro não chegava. Foi então que me aconselharam a pedir ajuda à ADCMoura», explica ao justificar que não pôde recorrer ao crédito normal, porque não tinha fiador. Os 5.000 euros deram para acabar a obra. O dinheiro ganho por José em Lisboa também foi investido no restaurante. Com o centro de emprego, o acordo foi outro. Mariana deveria receber o valor por inteiro e de uma só vez, por troca com a criação de dois postos de trabalho pelo salário mínimo, durante um período de três anos, pacto que cumpriu na íntegra. Hoje, tem a trabalhar consigo o filho Ricardo, Agostinha Martins e ainda Betty, «uma rapariga que ajuda quando o Ricardo não pode ou quando parecem mais almoços». Mas já empregou mais gente. «O negócio este ano está pior do que nos anteriores. Os espanhóis voltaram, mas os portugueses cortam nas entradas e nas sobremesas.»
Mariana ainda é proprietária do monte onde viveu a infância, até fazer 12 anos. As terras continuam a ser trabalhadas pelo marido. A criação de patos, francos e borregos é usada no restaurante onde a ementa é 100% alentejana. O nome O Encalho sobreviveu à antiga taberna que aqui existia. Segundo os habitantes da região, a designação surgiu por ser um local de passagem dos trabalhadores que ali entravam para beber um copo, antes de seguirem para casa. Alguns ficavam "encalhados". Conta-se inclusive que, por alturas do Carnaval, lhe dedicavam um verso, perdido na memória das vielas da vila de Amareleja.